...no dia seguinte...

"-Abigail! Estive a pensar melhor e acho que deve voltar para a UCI.
O meu médico é assim: decidido e resoluto. Entra-me de rompante no quarto (o tal com vista para o mar) e avisa-me que vou voltar para os cuidados intensivos.
- Porquê? - perguntei eu.
- Porque acho que está lá melhor. É mais seguro.
Resolveu, está resolvido. E lá vou eu de volta. Nem aqueci o lugar.
Como na UCI todos os outros doentes estão incoscientes (em coma ou sedados) eu sou a rainha em terra de cegos. Até tenho direito a televisão só para mim.
É incrível como parece ser tão normal, estar sempre deitada, tomar banho na cama, viver com tubos metidos no meu corpo, usar fralda, não poder lavar os dentes normalmente ou ir à casa de banho. Acho que o que sinto é que sou muito abençoada porque, com todos os problemas que tenho, eu podia estar nesta cama também eu inconsciente. Tudo o que me faça sentir viva sabe bem. Mesmo que seja olhar-me no espelho e não reconhecer a minha cor ou a minha forma."

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