Finalmente !!! Um dador para a Sónia Raquel...


... para todos aqueles que se inscreveram como dadores, para todos aqueles que ajudaram no recrutamentos de dadores, para todos os que organizaram ou ajudaram a organizar as campanhas de recrutamento de dadores de medula óssea, eis a notícias que tanto esperávamos:

A Sónia Raquel tem finalmente dador compatível!!! Graças a Deus!!

Este sim é um excelente presente de natal. O melhor que o menino Jesus poderia trazer, pelo menos para a Sónia e para os seus pais e família.

Obrigada a todos!

"Até aqui me ajudou o Senhor"


Há 3 anos atrás...

... amanhece uma manhã branca e, pelos vistos, cá fora faz muito frio.

Está tudo branco e todos os que podem caminhar vêm espreitar às janelas hermeticamente fechadas.

"Bate leve, levemente, como quem chama por mim..." efémeros e perplexos flocos de neve deslizam para um lado, para outro, como pétalas de amendoeiras.

Neva. Surpreendentemente, neva em Portugal. Maravilhosa, ainda que passageira, a paisagem revela-se em contornos angelicalmente brancos. Lindíssima manifestação do frio imenso que faz cá fora.

Mas cá dentro a temperatura é constante. Quente. No meu coração é Verão.

Discretamente (quem diria?) sentada no meu cantinho do sofá da sala de convívio, espero. Espero e continuo esperando.

Subitamente um "anjo" surge na porta e diz-me com um sorriso revelador: "Boas notícias, Abigail. 0,00% de mieloblastos." Ou seja ausência total de leucemia.

Uma intermitente vontade de rir e chorar impede-me de falar, de dizer o que sinto. Mas o meu coração dá pulos de felicidade e uma prece de louvor sai directo do meu coração para Deus.

Pego no telemóvel e mando mensagens, muitas mensagens. É o meu grito digital.

Este foi o dia em que Deus me sussurrou ao ouvido: "Quero que vivas. Tenho trabalho para ti".

Esta é a minha guerra



Uma célula tresloucada
Duas células,
cem,
mil.
Na revolta
geneticamente transformada
em frustração e
Em doença odiada.

Tantas células,
Milhões de células.
Brancas, vermelhas, sei lá!
Incontroláveis milhões,
Que me minam e dominam já,
Que tomam conta de mim.

Tomam conta do meu sangue,
Da minha pele,
Dos meus cabelos,
Do meu corpo.
Só me sobra a minha mente.
Essa é preservada, sim!

Esgravato com as minhas unhas
(enquanto elas não me caem)
Afastando o escuro medo,
Que eu não quero chamar meu.
Esgravato até encontrar um rio,
Um riacho,
Um fiozinho,
Uma gota de sossego.

E ainda que o corpo me falhe,
Mesmo assim, ainda sou eu.

Um monte de ossos e carne,
Um charco de sangue inquinado,
Duas pernas e dois braços
E um coração no meio.

Na minha cabeça, nua,
Amadurecem os meios
De combater, de lutar
Todos os medos, todos os receios.

E enquanto a pele cai,
A minha armadura cresce
Endurece,
Amadurece
E permanece.

E de mão dada com Deus
Firmemente, ardendo em fé
Vou indo,
Pé ante pé
E chego ao momento meu
Gritando com esta pena:
"Esta guerra, venço eu!"

Tive boas notícias da Eduarda


A nossa menina está contente (apesar de estar em isolamento há tanto tempo). A sua nova medula começou finalmente a produzir células boas. Uma vitória que, certamente se irá juntar a outras vitórias até ao triunfo final.




Não tarda e tudo será apenas uma recordação, amarga, mas passada. Tenho muita fé nisso.




Queria abraçá-la e dar-lhe muitos beijinhos, como ela merece. Mas isso não poderá acontecer por muito tempo ainda. Não queremos estragar aquilo que Deus já permitiu que acontecesse.




Vai daqui um abraço virtual e milhões de beijinhos.

Boas notícias

O tenebroso mielograma trouxe-me boas notícias. Graças a Deus por isso.



A minha grande preocupação agora são a Eduarda e o Hélio.



A Eduarda pelo transplante que já fez e que está, claro a provocar agora os seus efeitos secundários. Uma prova muito dura. Muito dura mesmo.



Estamos todos a orar por ela e Deus a protegerá e ajudará a enfrentar mais esta dura batalha. Agora ela precisa de muitos miminhos, nem que seja por e-mail ou sms.



O Hélio é um menino lindo de 19 anos que foi agora "apanhado" por um linfoma. A sua vida deu uma volta muito grande e treme como uma gelatina. E ele é tão novinho para enfrentar estas batalhas...



Que Deus o ajude também, tal como a mim, a sair vitorioso e de mente renovada.



Já não sei viver a vida sem me preocupar com "estes pequeninos". A minha vida expandiu-se enormemente, graças à leucemia. Mais um motivo para dar graças a Deus.

Mielograma, mielograma, mielograma...


Como o martelo de Vulcano, a palavrita bate com força na minha cabeça. Quero tirá-la de lá, mas não consigo. Quero varrer o meu pensamento e torná-lo límpido, claro e imaculado. Sou perfeitamente incapaz.


Já não faço mielograma há 6 meses e isso deixa-me insegura.


Não que eu queira ou goste de fazer mielograma (óbvio). Quem é que gosta de ter o "saca-rolhas" a furar o seu esterno e depois sentir arrancar-lhe os tendões do pescoço (é isso mesmo que parece)? Mas é apenas um mal necessário e depois de mais de uma dúzia deles (à dúzia é mais barato) definitivamente, já não é a dor física que me importa. Como costumo dizer, o que custa é esperar pelo resultado. Aquele que eu tenho fé, vai ser o melhor possível. Mesmo assim é impossível não sentir algum desconforto enquanto não recebo a notícia.


Por outro lado, faz-me bem voltar a sentir-me frágil em relação à doença. Faz-me lembrar que não devo tomar a vida como garantida e, então, cuidar melhor dela e apreciá-la melhor. Além disso, aproxima-me mais dos meus "irmãos" de batalha e não deixa que a lufa-lufa do dia-a-dia enterre a minha consciência do seu sofrimento, da sua dor e da sua necessidade do meu apoio. Dá-me vontade de dar-lhes mais de mim. Dá-me vontade de largar tudo e estar lá todos os dias para todos e cada um deles.


Espero não ficar para sempre apenas nas intensões. Sinceramente.