Esta é a minha guerra



Uma célula tresloucada
Duas células,
cem,
mil.
Na revolta
geneticamente transformada
em frustração e
Em doença odiada.

Tantas células,
Milhões de células.
Brancas, vermelhas, sei lá!
Incontroláveis milhões,
Que me minam e dominam já,
Que tomam conta de mim.

Tomam conta do meu sangue,
Da minha pele,
Dos meus cabelos,
Do meu corpo.
Só me sobra a minha mente.
Essa é preservada, sim!

Esgravato com as minhas unhas
(enquanto elas não me caem)
Afastando o escuro medo,
Que eu não quero chamar meu.
Esgravato até encontrar um rio,
Um riacho,
Um fiozinho,
Uma gota de sossego.

E ainda que o corpo me falhe,
Mesmo assim, ainda sou eu.

Um monte de ossos e carne,
Um charco de sangue inquinado,
Duas pernas e dois braços
E um coração no meio.

Na minha cabeça, nua,
Amadurecem os meios
De combater, de lutar
Todos os medos, todos os receios.

E enquanto a pele cai,
A minha armadura cresce
Endurece,
Amadurece
E permanece.

E de mão dada com Deus
Firmemente, ardendo em fé
Vou indo,
Pé ante pé
E chego ao momento meu
Gritando com esta pena:
"Esta guerra, venço eu!"

Tive boas notícias da Eduarda


A nossa menina está contente (apesar de estar em isolamento há tanto tempo). A sua nova medula começou finalmente a produzir células boas. Uma vitória que, certamente se irá juntar a outras vitórias até ao triunfo final.




Não tarda e tudo será apenas uma recordação, amarga, mas passada. Tenho muita fé nisso.




Queria abraçá-la e dar-lhe muitos beijinhos, como ela merece. Mas isso não poderá acontecer por muito tempo ainda. Não queremos estragar aquilo que Deus já permitiu que acontecesse.




Vai daqui um abraço virtual e milhões de beijinhos.

Boas notícias

O tenebroso mielograma trouxe-me boas notícias. Graças a Deus por isso.



A minha grande preocupação agora são a Eduarda e o Hélio.



A Eduarda pelo transplante que já fez e que está, claro a provocar agora os seus efeitos secundários. Uma prova muito dura. Muito dura mesmo.



Estamos todos a orar por ela e Deus a protegerá e ajudará a enfrentar mais esta dura batalha. Agora ela precisa de muitos miminhos, nem que seja por e-mail ou sms.



O Hélio é um menino lindo de 19 anos que foi agora "apanhado" por um linfoma. A sua vida deu uma volta muito grande e treme como uma gelatina. E ele é tão novinho para enfrentar estas batalhas...



Que Deus o ajude também, tal como a mim, a sair vitorioso e de mente renovada.



Já não sei viver a vida sem me preocupar com "estes pequeninos". A minha vida expandiu-se enormemente, graças à leucemia. Mais um motivo para dar graças a Deus.