Uma célula tresloucada
Duas células,
cem,
mil.
Na revolta
geneticamente transformada
em frustração e
Em doença odiada.
Tantas células,
Milhões de células.
Brancas, vermelhas, sei lá!
Incontroláveis milhões,
Que me minam e dominam já,
Que tomam conta de mim.
Tomam conta do meu sangue,
Da minha pele,
Dos meus cabelos,
Do meu corpo.
Só me sobra a minha mente.
Essa é preservada, sim!
Esgravato com as minhas unhas
(enquanto elas não me caem)
Afastando o escuro medo,
Que eu não quero chamar meu.
Esgravato até encontrar um rio,
Um riacho,
Um fiozinho,
Uma gota de sossego.
E ainda que o corpo me falhe,
Mesmo assim, ainda sou eu.
Um monte de ossos e carne,
Um charco de sangue inquinado,
Duas pernas e dois braços
E um coração no meio.
Na minha cabeça, nua,
Amadurecem os meios
De combater, de lutar
Todos os medos, todos os receios.
E enquanto a pele cai,
A minha armadura cresce
Endurece,
Amadurece
E permanece.
E de mão dada com Deus
Firmemente, ardendo em fé
Vou indo,
Pé ante pé
E chego ao momento meu
Gritando com esta pena:
"Esta guerra, venço eu!"